Não
acredito em destino.
Neoplasia da mama.
Como vocábulos pronunciados num ritual de magia, fui
lançada para uma nova dimensão onde não existe som e não existe gravidade. Não
conseguia mais distinguir qualquer ruido e quando me tentei levantar,
cambaleava sem controlo dos movimentos. Não foram as vivencias de 30 anos,
passadas em vislumbre de segundos, mas antes o afligimento dos afazeres do
presente, que bombeavam em todo o meu ser.
Não podia ficar doente!
Iria perder o emprego quando começasse a ausentar me e
consequentemente parar o progresso que tinha finalmente iniciado e a tao
ambicionada estabilidade para os meus filhos.
Filhos.
Palavra- chave para o inico de mais uma viajem na
dimensão desconhecida, que agora se revelava também sem luz e sem tempo.
Não conseguia respirar e não me conseguia mover.
Na minha perturbada mente surgiram imagens em
movimento.
O primeiro dia de aulas do meu filho mais velho, tao
próxima e tao impossível.
As gémeas iam passar para o quarto delas e já tinham a
colecção de historias e as musicas de embalar. As suas carinhas de divertimento
ou de assombro não seriam para meu deleite.
Só eu sei contar as histórias!
Como será o meu menino quando for alto e barbado e
mesmo assim precisar de um colo?
E os sweet sixteens das minhas princesas gémeas e os
seus corações arrebatados?
Os joelhos fraquejaram e eu tombei por terra, sob o
peso da minha perda. Tinha me sido dada a maior graça e em meio a minha
felicidade seria me retirado.
Não vou sucumbir á dolência da vã existência.
Não vou ser habitante nessa dimensão de medo e perda
do futuro.
Não vou buscar aconchego á convicção de injustiça nem
me sentar no colo da vitimização que traz a certeza dum castigo do destino.
Mudarei o destino