terça-feira, 16 de junho de 2020

Queira o destino....


                                                                                                     
                                                                                                       
           
                                                                                                                   Não acredito em destino.
Neoplasia da mama.
Como vocábulos pronunciados num ritual de magia, fui lançada para uma nova dimensão onde não existe som e não existe gravidade. Não conseguia mais distinguir qualquer ruido e quando me tentei levantar, cambaleava sem controlo dos movimentos. Não foram as vivencias de 30 anos, passadas em vislumbre de segundos, mas antes o afligimento dos afazeres do presente, que bombeavam em todo o meu ser.
Não podia ficar doente!
Iria perder o emprego quando começasse a ausentar me e consequentemente parar o progresso que tinha finalmente iniciado e a tao ambicionada estabilidade para os meus filhos.
Filhos.
Palavra- chave para o inico de mais uma viajem na dimensão desconhecida, que agora se revelava também sem luz e sem tempo.
Não conseguia respirar e não me conseguia mover.
Na minha perturbada mente surgiram imagens em movimento.
O primeiro dia de aulas do meu filho mais velho, tao próxima e tao impossível.
As gémeas iam passar para o quarto delas e já tinham a colecção de historias e as musicas de embalar. As suas carinhas de divertimento ou de assombro não seriam para meu deleite.
Só eu sei contar as histórias!
Como será o meu menino quando for alto e barbado e mesmo assim precisar de um colo?
E os sweet sixteens das minhas princesas gémeas e os seus corações arrebatados?
Os joelhos fraquejaram e eu tombei por terra, sob o peso da minha perda. Tinha me sido dada a maior graça e em meio a minha felicidade seria me retirado.
Não vou sucumbir á dolência da vã existência.
Não vou ser habitante nessa dimensão de medo e perda do futuro.
Não vou buscar aconchego á convicção de injustiça nem me sentar no colo da vitimização que traz a certeza dum castigo do destino.
Mudarei o destino

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