- É para
jogar no euromilhões e um Chesterfield.
- Boa sorte!
- Espero,
encontrar a sorte aqui de férias no Algarve comigo.
Um sorriso
de esperança espontânea aflorou aos lábios, com o feliz pensamento, enquanto de
cabeça baixa desenrolava o plástico do maço de cigarros num gesto automático de
tao repetido.
Empurrei a
barreira para entrar na zona comercial. A abstracção dos gestos e do pensamento
fez me bater com a barreira na pessoa da
frente, que de imediato se virou em busca do agressor passivo.
O espontâneo
e solto “desculpe” emudeceu na garganta, estrangulado pelo assombro.
Era a ultima
pessoa que esperava encontrar ali. 20 anos depois. Como era fácil e magico ver
o menino irmão das vivências do lar, por debaixo deste corpo de homem. 20 anos
depois. O desenrolar do passado exibe se numa velocidade de pancada na cabeça.
Pela hesitação do estender da mão, percebo que a perturbação do momento é
partilhada. Num impulso, as mãos esticam se e unem se num reatar do tempo
perdido.
A força do
aperto, o calor da afeição e o tao desejado abraço, escorreram as angustiosas e
já nublosas divergências.
Ancorados
pelas mãos nos ombros, o sorriso rasgou se, a lagrima correu e a palavra soltou
se.
Tanto para
perguntar, tanto para saber, que as palavras e as vozes se atropelavam, na
sôfrega ânsia.
Por entre os
olhos húmidos percebo que o seu sorriso afrouxa, e o menino magoado do passado
retorna. Viro a cabeça para perceber o que ele olha.
Sim. A luz
das lâmpadas salientam o brilho loiro da sua longa cabeleira que encima um
sensual e torneado corpo de mulher. Continua linda. A minha mulher. No que apareceu uma
eternidade ficamos os três parados e mudos, até que ele se foi.
Agora como
há 20 anos.