quinta-feira, 9 de abril de 2020

Recomeçar.....


Perdi a oportunidade de ser feliz! Com esta simples frase carreguei os teus ombros do entulho das minhas fátuas expectativas. Nunca soube bem o que queria, nem se realmente te queria. Mas não vou perder a oportunidade de polir a responsabilidade com a tua culpa. Acabamos. Sim, acabamos o enredo amoroso. Um tango argentino que nenhum dos dois dominava, mas que nos excitava no seu languido jogo de compassos entre arrastados e velozes. Olhos nos olhos, movimentos sincronizados na embriagues do romance. Tan tan. Os últimos acordes. Disfarçar os movimentos desajeitados no silêncio constrangedor, enquanto o olhar vexado, vasculha a imaginária cortina corrida de fim de cena, para encobrir a humilhante actuação de entrega. Capitaneados pela fragrância nublosa e anestesiante do remorso da falsa entrega, do inserto querer, da hipócrita e apressada certeza, navegamos a separação, esgrimindo culpas.
Quero entristecer te, mas não sei o que te faz rir. Quero inquietar o teu dia, mas não sei o que te dá a paz. Perturbador vazio morno, este que se instala ao som da tua gargalhada na minha memória e me agonia na mareada busca mental da causa de tão genuína moldura.
Perdi a oportunidade, sim, mas a de ter ver de verdade.
Desconheço este condimento agridoce, estacionado no fundo da garganta que impulsiona, a doce medo, o desejo de não te perder.
E então instala se confortavelmente a inquietude do gostar.

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